sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Apenas as Saudades

Tive oportundiade de ir a pouquissimos jogos esse ano dentro das dependência do Olímpico. A cada jogo que eu ia tudo que pensava era "quero ir ao máximo de jogos possíveis. Quero não ter que dizer no final do ano a frase 'poderia ter ído mais vezes'." mas sei que de alguma forma poderia ter ído. Poderia ter me endividado mais, poderia ter visitado mais vezes esse lugar que tanto amo.
Hoje ao voltar de casa para o trabalho, entre as estações Canoas e São Leopoldo, fiquei olhando pela janela da porta do trem e imaginando de forma geral esse momento que estamos vivendo. Aos poucos os olhos começavam a inchar-se e tudo que eu temia pensar não me saia da cabeça. Eu AMO o Grêmio. Eu AMO o Olímpico. Eu amo o conforto que sinto dentro dessa nossa casa.
Eu deveria ter arriscado mais minhas condições. Deveria ter sido um torcedor mais fiel a minha paixão.

Até hoje o jogo com maior presença de público em um jogo do Grêmio como mandante foi contra a Ponte Preta. Coicidentemente há poucas semanas estava eu nas sociais do Olímpico ante o mesmo Ponte Preta. Algo me dizia que seria meu último jogo nessas arquibancadas, o qual apenas consegui ir por conta de estar acompanhado do pai de um amigo, sócio pagante. Cada passo para fora das dependências pesavam e me faziam olhar para traz, olhar para o campo e os refletores se apagando. Talvez essa imagem jamais sairá da minha memória.

Para alguns pode ser uma grande besteira chorar ao pensar nesses momentos, nestas imagens que me ficaram na lembrança. Talvez não amem nada de verdade. Talvez não saibam ainda o que é amar algo. Talvez nunca me entendam. Talvez nunca sintam isso por nada de verdade.

Me lembrarei para sempre da última vez que cantei nosso hino junto a mais 45 mil irmãos dentro de nosso estádio, a última vez que entoei "GRÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊMIOOOOOOOOOOO!", e na época que ainda frequentava a Geral do Grêmio participei de uma comemoração com avalanche. A última vez que passei pelas catracas dos portões de acesso do Olímpico e vi meu nome junto a um "bem vindo". A última vez que andei pela rua e minha cabeça foi ficando para trás, não querendo acreditar que mais uma vez iria embora dali, mas dessa vez

Dentro do Olímpico fiz amigos, fortaleci amizades e até mesmo minha relação conjugal. Apenas quem sente isso é capaz de sofrer por tudo isso. Não aguentarei ver as imagens desse maravilhoso lugar sendo implodido. Me recusarei ao máximo a ver isso porque sei que não conseguirei ver sem desabar junto a esse concreto sagrado para todos que já foram alguma vez gremistas de verdade. Quem já foi, jamais deixará de ser.

Me dói pensar que o teremos apenas na memória e nas fotografias e vídeos.
Noite passada acordei com a respiração falha, fadigada e interrompida.. sonhava que estava dentro das arquibancadas vazias e sabia que nunca mais voltaria a vê-las.

Fico pensando "Imagina se um bilionário resolve amparar o Grêmio e pagar a OAS em dinheiro para que o Grêmio permaneça com o Olímpico como um CT ou algo do tipo", mas é apenas muito romantismo da minha parte.

Irei para as dependências do Monumental durante o jogo, mas não adentrarei por não ter ingresso. Talvez quando os portões puderem se abrir para que todos saiam eu consiga entrar de fininho apenas para ficar junto de toda essa gente de sentimento mútuo.

Eu te amo, Grêmio.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Templo


Já li muitos textos sobre o fim da "Era Olímpico". A imensa maioria ótimos textos, alguns até me trazendo grande comoção e lágrimas hétero. Mas, não adianta. Nenhum iria conseguir expressar o que eu sinto quando entro no maior e melhor estádio de todos. Provavelmente nem eu conseguirei, mas vou tentar.

Quando eu comecei a frequentá-lo, e a me familiarizar a ele, nunca imaginei que esse dia iria chegar. Já vi muitos dizerem que "o Olímpico é a minha segunda casa", mas nunca tive certeza se, ao falarem isso, tinham a intenção de realmente expressar o que tal afirmação significa.

Recentemente fui a Uruguaiana e vi a casa onde eu virei gente, e suas redondezas, totalmente alterada. A princípio tive uma sensação estranha, mas menos de um minuto depois de estar ali, naquela rua onde joguei bola de pés descalços no meio do barro, fiz guerra de bexiga, guerra de mamona e outras guerras inofensivas, onde aprendi com a minha avó materna a olhar de verdade pro céu, senti uma saudade agradável de um tempo que eu sei que vivi bem e passou. Espero que um dia eu consiga encarar o que está para acontecer da mesma maneira.

Afinal, o Olímpico talvez possa ser considerado mais a minha casa do que a que eu vivo atualmente, há mais ou menos 17 anos; frequento o meu templo há mais tempo do que isso. E digo templo tentando expressar tudo o que esse gigante de concreto realmente significa pra mim.

Quando ele vier abaixo, não vai ser um mero estádio que verei deixar de existir, ainda que um "mero estádio" quase sexagenário já signifique muito. Vai ser, literalmente, uma parte da minha vida que vai ruir, um porto seguro que sempre esteve ali para mim, que não vai mais estar.

O lugar em que aprendi a xingar, sem necessariamente querer o mal de alguém. Onde aprendi que é possível xingar a mãe de alguém, sem xingá-la. Onde aprendi o que era o "futebol de verdade", e que era possível, sim, ser o melhor sem ser o mais rico. Onde vi Danrlei, Dinho, Arce, Emerson, Jardel, Nildo Bigode, Argel (cenoura e mel), Roger, Paulo Nunes, Goiano (o Luiz Carlos), Adílson (o Capitão América II), Higuita, Rivaldo, Roberto Carlos, Marcelinho Carioca, Ariztizabal, Zé Roberto (lá e cá), Mazaropi (ainda que como treinador de goleiros), Scolari, Portaluppi e De León (ainda que como técnicos), e tantos outros nomes que nunca vou esquecer, por um motivo ou por outro. Onde vi o gol do Aílton, do Jardel, do Zé Alcino, do Luís Mário. Onde vivi algumas das maiores alegrias, assim como algumas enormes frustrações. Onde gritei até ficar sem voz por uma semana. Onde gritei sem conseguir abrir a boca. Onde criei laços mais fortes com um pai que eu pensava ser distante, mas não era. Onde descobri um segundo pai, quando eu nem sabia que isso era possível. Onde eu aprendi que mulher pode, sim, gostar e entender de futebol e, consequentemente, onde tive as minhas primeiras lições anti machismo. Onde aprendi a tomar uma cerveja e jogar conversa fora com a família, com amigos, com conhecidos, com moradores de rua, com o dono do bar, com um desconhecido qualquer. Onde reencontrei um baita amigo do colégio, que eu achava que tinha ficado no colégio. Onde aprendi a brigar por motivos imbecis, e, logo, a apanhar sem reclamar por saber ser merecido. Onde aprendi a brigar pelos meus e contra injustiças. Onde vi meros colegas de faculdade mostrarem-se verdadeiros amigos, embora um ou outro nem tão verdadeiro assim. Onde conheci melhor a guria mais especial de todas. Onde aprendi a descascar amendoim e ser crítico (ainda que às vezes até demais). Onde aprendi a acreditar até o último segundo, sem desistir. O lugar onde aprendi a ser forte de todas as maneiras possíveis, e que, de repente, não vai mais estar ali, a vinte minutos de uma caminhada em direção à zona sul.

Não passarei a amar menos o Grêmio por ele deixar de jogar no Olímpico. Qualquer pessoa que me conhece, sabe que é incabível considerar algo do tipo. A Arena é enorme, uma grande obra, vai ajudar o Grêmio de diferentes maneiras, e talvez até Porto Alegre e arredores. O ano que vem deve ser sensacional, e o Grêmio não sabendo que é impossível deve tornar-se ainda maior. Mas o Olímpico sempre será a minha casa, o meu templo. E no próximo domingo eu provavelmente terei que sair arrastado da Azenha, mas dessa vez não por motivos alcoólicos.